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Barriga Mendinha

Barriga Mendinha

29.03.17

Aquelas que tomam conta "dos nossos" mas que também têm "os seus"

Barriga Mendinha

Hoje quero fazer uma vénia às "outras mães". Aquelas mulheres que tomam conta dos nossos filhos... mas que também são mães dos delas. E de que tantas vezes nos esquecemos na nossa "maternidade egocêntrica". Elas também estão do "lado de lá" e geri-lo deve ser do caraças...

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A professora do meu filho (e de outros dezanove)... tem um filho quase da idade dele. Todos os dias, ambos acordam as 6 da manhã, todos os dias se despedem e ele fica "do lado de lá" enquanto o coração desta mãe se descola do do filho... para se vir colar ao "dos nossos". No dia de Carnaval, foi com "os nossos" que teve o desfile, foi com os "nossos" que brincou. No Natal, pouco tempo teve para fazer a sua árvore em casa mas a da sala de aula feita com catolina e enfeites, estava irrepreensível. Preocupa-se com o que "os nossos" comem mas não está presente na hora do almoço "do seu" e é com "os nossos" que passa grande parte do seu dia. Estranha ironia, não é?

 

Uma das diretoras da mesma escola tem dois. Apaixonada pela pedadogia como é, sei que aproveita todos os fins de semana para programas com eles, mas sei também que não consegue nem metade do que desejava. Muito do que já fez com os "seus meninos" acaba por ficar na escola, porque ao chegar a casa, mesmo que as intenções sejam boas, há que fazer o jantar, que dar os banhos e que dar uma voltinha nos trabalhos de casa. Quando dá por si... hora da cama. Para eles e para ela, que amanhã o dia recomeça cedo e "os nossos" estarão à sua espera, na expectativa da energia já habitual. E sem desculpas. Mesmo que tenha dormido pouco, por causa "dos seus". Estranha ironia, não é?

 

A educadora da sala da minha filha, tem dois filhos em idade pré adolescente. Precisam de apoio na parte da tarde, porque saem da escola pública, logo após o almoço. Precisam de apoio, por causa das notas que andam tremidas e para não estarem sozinhos em casa tanto tempo. Mas ela, está com os "nossos" até às 7 da tarde. Para que os "nossos", enquanto nós também trabalhamos não estejam sozinhos e sejam estimulados. Então... tem que usar parte do seu ordenado, para  manter "os seus" num ATL, onde outros auxiliares e professores, os ajudam, no tempo que ela própria não tem, por estar a "ajudar-nos a nós" a entreter "os nossos". Estranha ironia, não é?

 

A uma das auxiliares do mesmo espaço, faleceu o filho ( já maior ) há um ano atrás. Dor que não se imagina. Vimo-la a desaparecer, a desfigurar-se, a camuflar a dor, a ausentar-se por uns tempos. Mas a voltar depois. Pelos "seus meninos", os do colégio. Vimo-la a voltar a sorrir por fora, dentro do seu lamento. Vimo-la a "alimentar-se" do que não pode , ela mesma, ter mais, com o seu: o mimo destas crianças. O tempo que lhes dedicou, aos "nossos" durante anos e anos a fio, acabou por "roubar" ao tempo, pelos vistos finito, do seu próprio filho, não o tendo acompanhado em tantas coisas, por estar ela em horário de trabalho e ele... nas suas tarefas curriculares. Estranha ironia, não é?

 

A todas elas. E às outras também de que não conheço ou não sei a história, dedico uma palavra de Gratidão, de Amor e de Solidariedade. Nós, as "do lado de cá", não seriamos nada sem vocês. E sei que o vosso coração, sofre, anseia, culpabiliza-se,  chora, refleta como o nosso, por se terem que ausentar "dos vossos". Obrigada por tudo. Do fundo do coração.

 

 

 

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