Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Barriga Mendinha

Barriga Mendinha

28.12.12

A Sónia do "Cócó na fralda" em entrevista à "Barriga Mendinha"

Barriga Mendinha




Já lia o “Cócó na fralda" antes de me tornar “blogista” desta vida. E sempre achei este fenómeno (a página da Sónia tem à volta de 20 mil visitas por dia, o que no Universo português é uma brutalidade) muito curioso. Como é que as “trivialidades” do dia-a-dia de uma mãe/profissional, como tantas outras, “pegaram“ assim e têm tantos seguidores.

Entrevistei- a e percebi que uma das razões do seu sucesso tem a ver com a sua energia e alto astral ;)
Ora sigam a minha curiosidade, que espero que satisfaça também a vossa...


----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Imagina que eu não percebo nada do mundo cibernauta. O que é ser uma blogger? (Já tentei explicar várias vezes à minha avó e apesar de ela acenar com a cabeça acho que ainda não percebeu...)

Para alguém que não percebe nada o mais fácil é dizer que é como um diário, só que visível a toda a gente. Logo, terá sempre de ser um diário mais controlado...



Para além do óbvio (mulher com 3 filhos, sendo uma delas bebé) porque o nome “Cocó na fralda”? Não tiveste medo de ser mal aceite pelos leitores?

Porque queria que se percebesse que o meu blogue não era um típico Babyblogue, daqueles que agoniam só de passar os olhos quanto mais de ler. Cheios de coraçõezinhos e uma permanente convicção de que os filhos são génios e coisinhas maravilhosas. Eles são-no, claro, para qualquer mãe que se preze... mas o que eu não queria era ter um blogue assim baboso. No início ele servia sobretudo para desabafar quando estava com os miúdos pelos cabelos. Era quase um muro das lamentações, mas sempre com bom humor. E, por isso,"cocó na fralda" pareceu-me que explicava bem o que queria que o blogue fosse: «ok, aqui fala-se de criancinhas mas nem sempre das coisas adoráveis das criancinhas. Aqui fala-se do seu lado lunar e dos momentos em que temos vontade de lhes apertar o pipo.»




Quando escreves um post tens sempre em mente que ele vai ser lido por mais de 20 mil pessoas ou escreves como se fosse um recado para ti mesma e para os teus amigos e conhecidos (como, por exemplo numa página de FB pessoal e com um número muito mais modesto de leitores)?

No início escrevia como se fosse para mim. Mesmo quando passou a ter maior visibilidade, escrevi durante muito tempo sem ter muito essa noção. Hoje confesso que penso bastante mais antes de escrever o que quer que seja. Porque aprendi que as pessoas se ofendem com pouco e que é preciso ter muito cuidado para não atingir, sem querer, alguém que esteja do outro lado. Acho que, nessa medida, ser blogger também me ajudou a ser melhor jornalista. Porque enquanto jornalista nunca tive um feedback tão directo e imediato. Logo, nunca cheguei a saber se estaria a ofender ou a melindrar alguém. Escrevia com a pena mais solta. O blogue deu-me a exacta noção da imensa susceptibilidade das pessoas, logo... tornou-me mais cuidadosa.


O teu blog (e a maioria deles) acaba por ser uma espécie de diário/crónica da tua vida. Como te sentes com essa exposição? Apesar de ser expontânea, nunca te foi desconfortável ou causou questões de ética da tua própria privacidade?

Não. Aquilo que ponho no blogue é uma ínfima parte da minha vida. Não tem nada de privado, na minha concepção do que é privado. Privados são as nossas conversas íntimas, os nossos momentos mais profundos. O blogue tem apenas aquilo que eu quero que se saiba. Nada mais. E há tanto que ninguém sonha... Mas creio que o que faz de um blogger um bom blogger é dar a ideia de que as pessoas conhecem tudo sobre si, dar-lhes essa ilusão de intimidade e de proximidade quando, na verdade, aquela é uma pequenina percentagem do seu eu.



Foste durante muitos anos jornalista. Fazer isto é tão, mais ou menos compensador profissionalmente?

Rita, eu não fui jornalista... eu sou jornalista. É esse o meu trabalho, a minha profissão! O blogue começou como um passatempo e continua a ser apenas um extra. Mas não sou blogger, no sentido profissional! Nem pretendo ser. O que eu sou é jornalista. Colaboro semanalmente com a revista Notícias Magazine, do Diário de Notícias e Jornal de Notícias, onde faço reportagens, tenho uma rubrica semanal no Jornal de Notícias, tenho uma rubrica mensal na Pais & Filhos, outra colaboração mensal na revista Selecções do Reader's Digest. E tive, até há uns meses, um programa diário na Antena 1, onde entrevistava todos os dias um vencedor...




No teu blog falas da família, do Amor maternal, das rotinas do casal... A vida de uma “mãe de família moderna” tem realmente um sabor agridoce?

Tem, claro. É dificílimo conciliar a vida profissional, a vida de casal, a vida de mãe, e ainda postar umas coisas no blogue... Há dias em que tudo corre de feição, há outros em que a vida profissional não corre bem e quem paga é a família, com o nosso mau humor, outras vezes é a profissão que sofre pela atenção que é preciso dispensar à família. Há dias em que eles parecem uns anjinhos, outros em que parecem possuídos pelo demo. Há dias em que uma mãe se sente mesmo boa mãe, outros em que sabe que falhou em toda a linha. Não é fácil. Mas é por isso que é tão encantador. :)


Como lidas com as críticas acerca deste género de plataformas onde a escrita light se tornou ordem do dia e os temas mais recorrentes são os banais do dia-a-dia?

É-me absolutamente indiferente. Há sempre gente pronta a criticar tudo, é tãoooo aborrecido. E depois, por outro lado, não creio que a escrita tenha de ser light apenas porque os temas são os banais do dia-a-dia. Escrevo no blogue com o mesmo cuidado com que escrevo nos jornais, nas revistas ou para a rádio. E acho que os blogues puseram mais pessoas a ler. Não são livros, é certo. Mas há muita gente que não lia absolutamente mais nada que não os rótulos dos produtos que comprava no supermercado e as tabuletas na estrada. E que agora não passam um dia sem visitar os seus blogues preferidos e que lêem mesmo muito! E por vezes até arriscam livros, aconselhados nos blogues de que gostam... E, vejamos, haverá sempre espaço para tudo: para os blogues sobre política, literatura, artes plásticas... e haverá sempre livros e filmes e exposições e concertos... E haverá sempre velhos do Restelo, prontos a maldizer tudo.
Outros blogs que recomendes e porquê. 

Sou franca: leio muito poucos blogues. Não é por petulância, é mesmo por falta de tempo. Acumular tantos trabalhos, ter um marido, três filhos e um blogue deixa-me pouco tempo para ler outros blogues. Porque depois gosto muito de ler livros, de ver séries, de viajar. Mas vejo o da Pipoca Mais Doce, porque a conheço e foi quem me incentivou a criar um blogue, leio o Agatha Christie porque é de uma grande amiga, o Coisas que Tal, o Dias de uma Princesa por serem de mães fantásticas que também conheço... olha, reparo agora que conheço todas as pessoas dos blogues que visito, o que diz muito sobre mim e sobre o meu conhecimento do mundo blogosférico.



Já lançaste um livro, o teu trabalho está entre os “blogs de elite” do Clix.pt, tem fieis seguidores/as. Onde pretendes chegar, profissionalmente e como mulher?

Pretendo continuar a ser jornalista, como sou há 16 anos, continuar a conhecer histórias maravilhosas de pessoas que, se não tivesse esta profissão, jamais conheceria. Tenho um outro livro na calha, gostava um dia de me dedicar à ficção mas acho que vou ter de esperar que os meus filhos cresçam e cheguem à idade em que já não me queiram ver à frente. Como mulher, quero continuar a ser feliz ao lado do homem da minha vida, com quem estou casada há quase 13 anos e por quem continuo apaixonada. De resto, apanhas-me na véspera de ir com ele (e sem as adoráveis criancinhas) 4 dias para fora, em clima de romance, que é algo que fazemos pelo menos uma vez por ano.