Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Barriga Mendinha

Barriga Mendinha

06.11.12

"A vida antes do tempo"

Barriga Mendinha

Agora, uma semana passada do nascimento da Matilde estou mais calma, mais certa de que a minha linda filha está pronta para a vida. Saudável e forte. Apesar de ter nascido com 36 semanas. Um bebé pré termo, prematuro...

Felizmente, no nosso caso, a bebé já estava “madura” o suficiente para viver neste mundo, sem grande problemas de saúde nem nos pregou nenhum susto valente. Todos os dias dou Graças por isso mesmo, mas há pais que não têm a mesma sorte. A Cátia Lopes, que agora é mamã de um bebé com quase 2 meses, passou pela pior experiência que uma Mãe pode ter. Viu, uns tempos antes, um outro fruto do seu Amor morrer 4 meses depois de vir ao mundo. Um bebé prematuro...

Achei este seu livro e partilha tão intensos, bem escritos, interessantes que não hesito em vos aconselhar.

Um livro que pode apaziguar os corações de quem passou por uma experiência idêntica. E abrir os corações dos pais com bebés saudáveis, que por vezes nem se lembram da sorte que têm por terem  filhos lindos e cheios de vitalidade e energia.

Aqui fica uma amostra e um grande beijinho para a Cátia, o Vasco, o Vasquinho e o mano Afonso, que é agora uma estrelinha no Céu a olhar para esta bonita e forte família.   



“Todos os pais de primeira viagem sonham com o momento mágico, aquele em que terão finalmente o filho recém-nascido, saudável, a dormir no colo. Mas a vida prega partidas e num segundo o nosso filho com pouco mais de cinco meses é arrancado de dentro de nós para que tenha uma mínima hipótese de sobrevivência.

O caos instala-se, a incompreensão, o horror, a dormência caminham de mãos dadas connosco. Ser mãe de um filho prematuro no limiar da viabilidade representa tudo o que a maternidade não deveria ser.

As conversas dissimuladas, a pena espelhada nos rostos que nos observam à distância, o assunto tabu discutido à porta fechada e a realidade assustadora do interior de uma Unidade de Cuidados Intensivos de Neonatologia, aquela que desconhecíamos ou preferíamos ignorar são agora o nosso quotidiano. Os ventiladores e monitores tornam-se os nossos melhores amigos. 

O lugar entre a esperança e o desespero adquire um tom cinzento e o medo deixa-nos um gosto amargo, sabemos que não vamos ultrapassar a lembrança dos sons, dos cheiros daquele sitio fundado algures entre o céu e o inferno. Entramos numa espiral descendente com o abismo e a loucura a ganharem terreno a cada dia que passa. 


Nós lutámos pelo Afonso, tal como a nossa confidente à distância, a Ilídia, havia lutado treze anos antes pela sua Rita.

As questões da vida e da morte, da prematuridade extrema, os nossos valores, as nossas crenças, a família e a amizade foram levados ao limite na derradeira decisão da nossa vida, deixar partir o Afonso em paz. 

Desafiando as estatísticas, as lógicas da ciência, lutando contra os nossos próprios demónios e contra os das equipas de saúde, expiamos assim a nossa culpa, a nossa dor e as nossas memórias. É o meu legado, o legado de outra mãe prematura, o legado dos nossos filhos, para que as famílias de bebés prematuros sintam que não estão sozinhas nesse sofrimento atroz.”

Por :