Ser mãe do meu primeiro filho ( a minha identidade enquanto mulher e mãe)
"Quem és tu e quem somos nós, Afonso Luz"
Tal como te disse no início ( isto que agora lêem era parte de um livro que nunca foi editado, mas cujos textos vou descobrindo por aqui e me vão fazendo sentido aqui pelo blog ...), sempre fui daquelas mulheres para quem a maternidade sempre fez sentido. Talvez para quem me veja de fora, sempre com uma atitude festiva, por vezes roçando até o boémio e independente, não seja, sem dúvida, a característica que mais depressa se me adequa. Mas outra coisa que vais ter que aprender ao longo da tua vida é que “ nem tudo o que parece é”. Mal tenhas idade para ler e compreender, oferecer te ei “ o Principezinho” de St. Exupérie, a metáfora mais simples e bonita de todos os tempos, um livro escrito para crianças mas que serve de inspiração a adultos como eu. Um livro em que entram bichos e homens, sonhos misturados com realidades etéreas . Entre as grandes pequenas lições que o mini herói nos presenteia uma das frases que sempre seguiram os meus passos, avaliações e olhares diz nos que “ o essencial é invisível aos olhos”. E isso, que te fique bem incutido. Porque, acredita que esse é um exercício bem difícil de executar.
Pois bem, filha de pais separados . E juntos. E separados. E juntos. E mais uma vez separados… desde pequena que entendi que a família é o que tu fizeres dela. A minha era pequena mas unida. Menos o meu pai, que embora sempre tenha amado, era mais um amigo “ compincha” que aparecia de vez em quando e me levava a fazer uns programas giros do que um pai propriadamente dito. Esse papel, o de padrão e referência masculina, acabou por pertencer mais ao meu Avó Zé, porque era com ele e com a avó Nor que passava grande parte do meu tempo livre. Enfim , eles, a minha incansável mãe e uma outra personagem que ia entrando ou saindo acabaram por constituir o meu núcleo familiar. Nenhum dos os meus progenitores tinha irmãos… por isso, primos directos, casas cheias de miúdos, confusão daquela da boa, da familiar… foi coisa que não conheci. Vivi uma infância entre adultos e a sua sensibilidade e os problemas. E que problemas… Vivi uma infância em que aprendi a dedicar a mim mesma os meus momentos de silêncio, em que as brincadeiras eram vividas por entre as histórias dos livros, as tintas e os pincéis, as mãos sujas de barro e da massa dos bolos da avó e por vezes da companhia da minha amiga imaginária, a Nanita. Uma menina que povoava a rotina do meu imaginário , ruiva e de totós e que me acompanhava nas viagens a outros países e realidades e me ajudava a colorir um pouco mais a minha pequena mas não desagradável solidão de uma infância protegida e despretensiosa.
Talvez este isolamento , apesar de não me ter sido penoso, me tenha deixado o tempo mais que necessário na introspecção imaginativa de uma família numerosa cheia de catraios a animarem os meus dias, na antítese completa da meninice do meu arranque de vida e me fizessem desde cedo acreditar que, ao invés da minha família próxima.. o meu casamento iria ser feliz, os meus filhos iriam ser vários e barulhentos e os animais que sempre gostaria de ter tido seriam o elo de ligação entre adultos e crianças numa verdadeira sociedade familiar em plena comunhão, confusão e união… Sonhos de criança. Porque a realidade volta a repetir se. Ou até a sublinhar os erros que não queria já herdar dos meus antecessores e que, por coincidência ou não… pareceram acentuar se , na minha idade adulta, oferecendo me o peso de uma herança não desejada. Claro, que não me posso esconder só e unicamente atrás dessa premissa… mas a verdade é que há Histórias que se parecem repetir. Nomeadamente padrões menos simpáticos nas relações entres as mulheres da minha família e os homens com quem decidiram partilhar a vida ou momentos dela.
Quem me conhece hoje, ou mais propriamente, quem conhece a minha imagem exterior e pública, não me imaginaria assim criança, tal como to defini. Quantas e quantas vezes, devido ao meu ar mais espalhafatoso de estar na vida, oiço conhecidos e até amigos de momentos mais tardios esboçar comentários do estilo: “ devias ser um traquinas…”. Pobre traquinas … que mais era uma menina imberbe e sonhadora, uma autêntica princesinha em castelos de cor criadas por mim mesma. Uma criança muito sensível à arte ( gosto adquirido desde cedo com as incursões com a minha mãe a peças de teatro, workshops de artes plásticas, aulinhas de ballet e muitas exposições que me foram aguçando a sensibilidade e a vontade). Era também divertida, não te enganes filho, com esta descrição um pouco melo-trágica da minha passagem pelos verdes anos, não. Histórias muitas tenho de partidas que pregava em casa, férias bem passadas no Algarve ou em Coimbra, ou no Banzão, ou em Colares, ou em S. Pedro do Sul ou em Pedrógrão, ou na Ericeira. Na quinta do Freixo, a terras a sul com os meus avós maternos e a minha Bisavó Alice e aí, sim , 4 ou 5 primos mais velhos mas muito activos e malandrecos. E, paralelamente todos os outros Verões até à adolescência, nas mais diversificadas “viagens na minha terra” pelas mãos dos meus avós paternos, que também me marcaram muito nessas épocas de meninice. A referência dos mais velhos… indiscutivelmente. Talvez por isso também o meu grande respeito pelos seniores da nossa sociedade. Sempre, mesmo em miúda, lidei com eles como se outros miúdos da minha idade se tratassem, taco a taco , mano a mano, mas sempre com muito respeito. Tenho agora a certeza de que a presença de crianças e da sua vivacidade na Inverno da sua existência, dos velhos, lhes oferece anos de vida e os desemperra da sua natural preguiça que a idade lhes vai oferecendo. Filho… os avós e bisavós, os tios mais velhos, os professores, alguns Mestres que se cruzam na nossa vida, são da mais inestimável utilidade à nossa alma, aprendizagem e mais tarde.. memória. Depois deles partirem e normalmente, depois de nos ter já passado a mania da juventude de que tudo sabemos ou podemos, aí é altura de reviver alguns ensinamentos desses Seres mais sabidos a que, muitas vezes não ligávamos.
Vou me perdendo em tanto que te quero contar não é? E ainda há tanto, tanto para te oferecer, que desejo que conheças e percebas. Seria meu impossível desejo, aqui te descrever os sonhos, vivências, desgostos e vitórias de todos os nossos antepassados, tão importante foram todas essas vidas mesmo as mais simples. Sabes, nós somos assim, por causa deles. Por causa dos princípios que nos foram sendo passados ao longo das gerações, por causa das suas lutas, devido às suas condições sociais. Aqui temos toda a arvore genealógica e ambas as famílias. A minha e a do teu pai. E tu vais ser um ramo de ambas. Um ramo forte e cheio de nova vida, repleta de pequenas folhas verdes, fortes e frescas que mais tarde darão também origem a outras ramagens e ramificações. Mas só isso, a História dos Nossos me duraria mais uns quantos livros. Tentarei , no entanto, passar te o que de mais importante me passaram também a mim. O que ouvi também da vida do teu pai e o que me parece ser importante para que tu próprio, um dia tires, destas pequenas grandes Histórias de vida lições e paralelos com a vida que hás de viver. É que, acredita, não são raras as vezes, que a força nos vem deles, os nosso anteriores, os seus fantasmas, erros e triunfos. O Ser humano gosta de comparações. E as familiares são fortes como poucas.
Voltemos ao facto de que sempre me desejei Mãe. Sempre me vi nesse papel e bem novinha me imaginava a sê lo. Tal como a minha mãe, a tua avó Clara, o foi. Lá para os 20 e pouco. Seria para mim um desejo ter uma pequena diferença de idades da minha cria. Talvez por isso tenha casado aos 22. Talvez por isso, tenha até a essa idade alimentado a tal idílica ideia da família tradicional. Talvez por isso tenha sido precoce na minha necessidade de ser uma “ senhorinha”, cheia de negócios e ideias que me iriam concretizar, realizar e sustentar. A mim , aos meus bebés e companheiro de jornada e trazer a virtude da Alegria que normalmente só aos loucos ou aos muito jovens é permitida. Pois, era mais uma louca. Porque afinal essa vontade não foi assim tão fácil de concretizar e a “vida real”, as suas dificuldades, desilusões e o horror de ter que começar a tomar opções muito concretas nos passos da vida, depressa se apresentaram no meu panorama. Divórcio um ano e pouco depois, nada de bebés, cães, casas na praia e felicidade idealizada, e de repente só um vazio… o vazio de afinal não saber bem o que queria efectivamente fazer, ser ou alcançar. E aí lá se foram as certezas. E aí começou o caminho de 10 anos que agora te vou tentar descrever e que tem o seu término, agora aos 33 anos e finalmente contigo, o grande Amor da minha vida no meu ventre. Tardou, mas vieste. E seja porque circunstâncias tenha acabado ( ou começado..) por ser assim, é porque assim teria que ser. E talvez porque Tu, o exacto Ser que aí vem (estávamos em 2010 e ainda nem eu sabia o filho "de Luz" que aí vinha...;))… só agora estaria preparado para surgir. E porque provavelmente também só agora eu esteja preparada para te receber. E assim então, o será.
( se gostarem.. vou continuando a editar o resto que para aqui anda, escondido em pastas, no meu computador... ainda há tanto a desvendar ;)...)