Dia de Natal.
Almoço sozinha frente à tv com o Shrek e a princesa Fiona como barulho de fundo, enquanto me passeio em viagens virtuais por sites de cultura e lazer para saber se há algum programa a fazer hoje à tarde em Lisboa. Por isso, este não é mais um post sobre presentes ou espírito de Natal com criancinhas e família, provavelmente o mais esperado num blog sobre família e maternidade. Este é um post sobre uma mãe, também mulher, ser pensante e emocional. Querem?
Não não estou sozinha por obrigação, nem por zangas, nem por não ter por onde ir ou com quem estar. Estou sozinha porque quero. E estou mesmo bem. Agora, depois de um dia 24 cheio e a aguardar que a noite de hoje seja mais uma vez a loucura, numa espécie de rewind da ceia de ontem e de mais uma visita do Pai Natal... era mesmo isto que eu precisava, um momento de namoro entre mim... e a minha manta.
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Pode parecer estranho a muitos, talvez até mais por imposição da sociedade mas uma coisa que a maturidade nos dá é isso.. é já não nos pautarmos tanto pelo que os outros acham que é o correto, mas por aquilo que Eu acho que é o correto.
E os meus filhos? E a minha família (ou famílias, tendo em conta que tenho várias "frentes" nessa batalha...)? E o tal almoço solidário? Bem, comecemos por aqui.
O ano passado passei o almoço do dia de Natal numa associação e estava decidida a fazer o mesmo este ano. Uma forma de aproximar os meus filhos das causas sociais e levar sorrisos e uns miminhos de Natal a quem tem tão menos do que nós. Então? Porque é que não fui? Opá... olhem, coisas à Mendinha, decidi em cima do tempo qual a associação que queria, sugerida por um médico e amigo, que me cedeu o contacto do diretor... mas só o número fixo (e na net quase nada de informações....). A verdade é que liguei umas 5 ou 6 vezes e nunca atenderam. Entretanto.. os dias passaram, e estavamos em terça feira. Já não deu para fazer nada. Mea Culpa, que não me devia ter atrasado nesta combinação, mas como tudo na minha vida é a mil... olha... deixei o essencial "para amanhã" e acabou por correr mal ;(
A acrescentar a isso.. o meu príncipe Luz, o Afonso passou o 24 com a família do pai e quando ele me perguntou se tinha algo combinado para hoje, não tive como lhe dizer que não fosse a casa do irmão com ele, onde estão todos os primos que o Afonsinho tanto gosta, a celebrar o Natal confuso que faz as delícias dos putos. Ou seja... essa parte de mim ( sinto-me desmembrada sem um deles, é inevitável não me sentir um pouco triste com este afastamento, mesmo que o finja para fora) só volta hoje ao fim da tarde, para casa da avó Clara (a minha mãe), onde vamos, com essa parte da família, simular a consoada de ontem.
A Estrela, a minha Matilde?! Ui... com essa tem sido a loucura, ontem, noite com a família da casa do pai , única criança... imaginem a excitação. E hoje... eu sugeri ao pai Hugo, irem os dois de novo almoçar com eles, enquanto eu ficaria em casa. Primeiro desconfiou da minha "boa onda", julgou-me chateada com algo... depois expliquei-lhe que este momento mais calmo, tão raro, me iria saber bem... e que no fundo seriam só 3 ou 4 horas. Estranhou que me sentisse bem a almoçar os restos do cabrito de ontem ( o que servi à hora do almoço com a minha irmã, avó, meninos e pai, que está separado da minha mãe por isso, não entra nas outras festividades, mas não queria deixar de estar com ele) num tabuleiro, sentada no sofá.. mas depois acedeu. Fazia sentido eles irem, sim, até porque os bisavós da Matita, que são do Norte, quase não têm oportunidade de vê-la... ah.. e eu ainda me agarrei à desculpa de que tinha ( e tenho, porque como estou aqui a escrever-vos, ainda não tratrei nada disso) que embrulhar alguns dos presentes para a festa da noite, onde ainda seremos 12 ou 13.
O Natal para mim é família, união... e acreditem, que assim... "às mijinhas"... tudo me parece estranho e desinteressante , só cansativo uffff.... Sei racionalemente que é assim que tem que ser... mas emocionalmente e sendo fiel aos meus verdadeiros sentimentos referentes a isto, parece que não me faz qualquer tipo de sentido com tanta "subdivisão".... Faço-o, celebro-o pelos outros, não por mim. A acrescentar a tudo isto, a minha separação do pai do Afonso e o estar longe metade da quadra, existem também os meus pais, que não estão juntos há uns 10 anos e família do marido atual da minha mãe. Ah e ainda a parte da Matilde... a da família do Hugo, portanto. quem me dera poder juntar todos, meu Deus! Aí... conhecendo-me como me conheço, não pararia um segundo e o meu coração estaria cheio de Amor e orgulho. Quem me dera poder ser eu a receber em casa. Mas a cas não é grande o suficiente e mais que isso... nenhuma das partes estaria disposta a isso. Entende-se. Ou não... por mim, que tenho um free spirit e uma hippy (chic ;)) forma de pensar. Por mim, receberia família e amigos e até (como já quis em tempos e deu "espiga"...) pessoas solitárias ou necessitadas que me tenham tocado o coração... Não é demagogia, ou querer "parecer bem"... sei que não daria para todos, para se se fizer a diferença na vida de uma pessoa, acredito que já valeu a pena.
Enfim... aqui estou eu, neste momento solitário, vivido assim, no meio da incongruência que é a minha vida. Normalmente queixo-me de não conseguir parar um segundo, rodeada de amigos, família, filhos, trabalho, compromissos. E hoje, quando quase todos andam tradicionalmente nessa azáfama... aqui estou eu, a escrever em paz, a usufruir da minha casa (desarrumada mas em plena paz) e a tentar "uliliuzar" este momento para tirar lições, pensar no ano que passou e prespetivar o que aí vem.
O tabuleiro está ainda aqui ao meu lado com o resto da refeição, os sonhos e rabanadas em cima do aparador, seduzem-me para serem os seguintes, juntamente com um cafézinho expresso (bebido sem stress, com a Matilde a querer sorvê-lo também ou o Afonso a pedir para mexer na máquina enquanto o tiro..). A árvore de Natal ali ao fundo como se me piscasse mil olhos e fosse cúmplice deste meu momento. Eu... orgulhosa por finalmente, ao fim de tantos anos a andar ao "mando e vontades" alheias, conseguir afincar pé e fazer o que me vai na alma. Neste caso, ainda por cima, sem ferir susceptibilidades, sabendo que ambos os meus filhos estão felizes com quem estão e que já fiz e irei fazer ainda o meu papel de filha, neta e familiar presente, oferecendo carinho, miminhos e tudo o que é exigido no Natal.
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Aproveito para ainda desejar uma excelente quadra a todos. Ainda vou a tempo de o fazer e apesar de tudo só agora consegui fazê-lo. Sim, é que ao invés deste momento sozinha, até há pouco, os minutos de pausa são poucos e fico feliz e com a sensação de missão cumprida, de ter utilizado um bom pedaço deste, para escrever um post de Natal diferente, numa experiência que acredito não ser comum, sobre a minha opção (porque gosto de acreditar que sou uma mulher de opções diferentes, mas sempre coerentes e sem ferir os que me rodeiam). Porque no Natal todos deviamos ser, ou pelo menos perseguir, o que nos faz feliz. Ser bom para os outros e também para nós mesmos. E eu... sinto-me hoje, bem assim., a almoçar sozinha.
Feliz Natal. Com muito amor, auto-estima, solidariedade e união. Apareçam estes sentimentos de que forma for, mesmo que não sejam da mais tradicional e clichet.
(E agora... bora lá embrulhar mais umas prendas.. que os meus meninos ainda vão hoje à noite, vibrar muito com as surpresas ;))...