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Barriga Mendinha

Barriga Mendinha

11.04.16

A vida que tem de ser

Barriga Mendinha

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Nem sempre somos o que queremos. Fortes constantes, coerentes. E nem sempre o que sabemos que  "a vida que tem de ser"... nos faz sentir bem.

 

E apesar de saber que é suposto e tal e tal...o meu coração não anda a conseguir lidar com a ausência do "filho do pai separado". Pronto, tenho dito. Ando mesmo a sofrer com isso, anda-me a fugir pelas mãos (tanto o filho, como a situação) e  tenho andado a sofrer em silêncio. E não se pode fazer basicamente nada.  Pronto. A não ser... escrever um texto como este para ver se alivia e se encontro "cúmplices" neste sentir.

 

Tem a ver com a minha vida, com a minha rotina, com o fato de eu estar a voltar a estar muito fora aos fins de semana e ele estar com o pai de 15 em 15 dias. Tem a ver com o fato de muitos dos que "me calham" ele acabar por ficar com a avó ( adora, atenção e é até muito saudável mas.. mas.. eu não estou presente...), porque eu estou de viagem a tocar. Não é algo que consiga prever. Muitas vezes, as datas surgem 2 ou 3 semanas antes, outras até menos e já há coisas combinadas do outro lado, perfeitamente legítimo. 

 

E depois vêm-me todos dizer: mas olha, não fiques assim, ele está contigo durante a semana, aproveita sem stress..". Sim, está... mas durante a semana há a escolinha, as atividades, eu sempre cheia de afazeres, o restaurante, sinto que é "acordá-los, arranjá-los, deixá-los... passar o dia, apanhá-los, arranjá-los, deitá-los...". Preciso de manhãs de ronha com ele, de ficar 48 horas dedicadas ao meu caracolinho. Preciso de o sentir perto sem estarmos sempre de horas marcadas para tudo... Preciso da minha Luz. Do meu Luz. Sinto-me apagada sem ele.

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 Existe ainda outra coisa e que tem a ver com uma sensação de injustiça, perante a minha permanência com a  irmã, uma espécie de desiquilibrio no meu "estar" com cada um deles, com quem eu sinto e sei ( eu sei. Ele, acho que ainda não equacionou isso) que estou muito mais tempo. Algo inevitavel, porque ela "é permanente". Não há pais separados e está sempre "deste lado". Ok, ok, continuo a ir para fora, trabalhar, continuo a não estar todos os fins de semana, mas estou muitos outros estou presente. E só as duas, sem mano. Umas vezes com o pai, outras com ele a trabalhar no restaurante e noutros trabalhos, por isso, também muitas vezes só mesmo as duas. A criar laços que sinto que me estão a começar a falhar com o mais velho.

 

Não posso, nem quero, no fundo, fazer nada.  Porque não posso nem quero deixar de trabalhar ( nos meus horários irregulares...) porque ele não pode deixar de ir para a escola para estar comigo (já o cheguei a fazer uma ou duas vezes, mas como acho que as rotinas são importantes de manter, tento não o fazer muito), porque o pai e a família dele têm tanto direito de usufruir de tempo de lazer com ele como "os de cá". Mas quero, aqui, deixar que sinto e fazê-lo sem pudores, porque acredito que haja muita mãe separada que se passe por esta dor inevitável de quem sente que se lhes é arrancando um pedaço de si, ao perceberem que as contingências da vida, as fazem afastar de quem mais amam. Mais ainda... para quem, tem filhos de pais diferentes e passa a vida a tentar perceber se dá a um o que dá ao outro, que tenta compensar mas também não sabe bem como, que sofre porque a família nem sempre está completa...

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A outra pirralha também se queixa de saudades, quando o irmão não está. Principalmente quando está na rotina caseira e comigo. Chega a ordenar-me : "Vai buscar Axonxo Mãe! Vai!".. e a mãe: " Ó filha, não posso, ele está no pai João... ;("... Mas depois... ele surge e as saudades passam a ciúme e embirrice e ele, que é um doce, acaba por ser quase ostracizado por ela, que se passa cada vez que me chego a ele e ele a mim. Faz jogos de birras, afasta-nos, chega a dizer " A mae é shó mia!!" e no fundo, até deve acreditar nisso, porque me teve dois dias inteiros só para ela. A enroscar-se em mim, a brincar com ela sem outro foco de atenção a distrair-nos, a dormir num determinado sítio na minha cama... que depois... o mano chega e.... também quer! No fundo, acaba por não ser culpada deste "marcar de território", o que ainda é mais difícil de gerir, porque não a quero assim.... mas percebo o porquÇe de estar assim...

 

Sinto que "a vida que tem de ser"... nos está a afastar ao ponto de ele um destes fins de semana me dizer. "Ó mãe, mas hoje não há escola?"... " Não filho! É sábado!!"  E ele: " Mas os sabados e os dias sem escola não são na casa do pai? ".... ;( 

 

E pronto... sem mais que dizer, contar, queixar, choramingar, teorizar, só agradeço poder partilhar ( e espero que sem dedos apontados ou críticas) este sentimento com tantas mães ( e sim, porque não pais) que vivam algo parecido.. um misto de culpa ( sem haver culpa nenhuma), tristeza, impotência e medo de estar a errar na educação emocional destes dois pequenos seres ( ada um por razões diferentes) e ... saudades constantes de uma realidade que está longe de ser aquela que eu sonhava quando quis ser mãe. 

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Sabem que mais? Cada momento tem que ser aproveitado, saboreado à séria. Porque o tempo é tão curto e passa tão rápido... Porque ao não nos conseguirmos duplicar, não podemos chegar a tudo o que queremos e ao não chegar a tudo o que queremos.... a nossa felicidade vai sendo vivida às fatias. E como seres insatisfeitos que somos...normalmente parece-nos sempre, que à fatia que temos no prato, falta sempre algum ingrediente extra. E para mim... impossível na permanência, mas maravilhoso quando acontece... as minhas duas fatias juntas (de seu nome "meus doces filhos") completam aí sim, o bolo mais saboroso do mundo!

 

Ai, ser mãe é mesmo ter o coração ( muitas vezes a doer) fora do corpo... Porra!!

 

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